Na entrada da cidade de Najera, Espanha, há um muro pintado com o seguinte poema, de autoria do padre Eugenio Garibay:
“Poeira, barro, sol e chuva
É o Caminho de Santiago.
Milhares de peregrinos.
E mais de mil anos.
Peregrino, quem te chama?
Que força oculta te atrai?
Não é o campo das estrelas,
E nem as grandes catedrais.
Não é a bravura Navarra,
E nem o vinho dos Riojanos.
Nem os mariscos Galegos,
Nem os campos castelhanos.
Peregrino, quem te chama?
Que força oculta te atrai?
Não é a gente do Caminho,
E nem os costumes rurais.
Não é a história nem a cultura,
Nem o galo de La Calzada,
Nem o Palácio de Gaudí,
Nem o castelo de Ponferrada.
Tudo eu vejo ao passar,
E é com prazer que vejo tudo,
Mas a voz que me chama,
Esta eu sinto muito mais fundo.
A força que me empurra,
A força que me atrai,
Não sei explicá-la,
Só o de cima o sabe”.
Inspirada por esse poema, eu afirmo: tem um momento na vida da gente que o Caminho passa a chamar os peregrinos!
Nos últimos meses tenho lido muito sobre O Caminho, e em muitos relatos de peregrinos aparece que eles não pegaram O Caminho. O Caminho os pegou. Ele não lhes dá a palavra, ele os silencia. A maioria dos peregrinos está, aliás, convencida de que não decidiram nada por conta própria, mas, ao contrário, as coisas “se impuseram a eles”.
Tão achando estranho essa história de chamado, de convocação feita pelo Caminho, né. Mas olha só o que tem acontecido comigo. Como ignorar todas essas “coincidências”…
É claro que a peregrinação pelo Caminho de Santiago sempre esteve nos meus planos de viagem, como um sonho acalentado, algo do tipo assim “um dia eu farei…”, mas nada concreto, nada de datas e outros detalhes. Apenas um desejo, um sonho…
Então, “recados” começaram a chegar até mim este ano. A pouco tempo atrás, no mês de Julho deste ano de 2016, eu estive em Bonito/MS, trip que eu relatei aqui Bonito/MS
Lá eu conheci uma pessoa que fez O Caminho de bicicleta e me fez alguns relatos sobre a peregrinação. Já me entusiasmei. Mexeu no meu braseiro…
Retornei para casa e poucos dias depois, no meu aniversário, ganhei um presente da querida prima Luciana – um livro. Adorei, pois amo ler. Do que trata o livro: o Caminho de Santiago! Veja aqui a sinopse do livro Pelas trilhas de Compostela – O relato de uma viagem laica – Jean-Christophe Rufin .Mais um sopro na minha pequena chama… Devorei o livro em poucos dias.
Passou poucos dias, fui à missa dominical. Sobre o que o padre falou no sermão: o Caminho de Santiago! Nossa! Aí já era uma labareda…
Daí em diante aprofundei pesquisas na net sobre O Caminho. Comprei mais um livro. Leia a sinopse aqui 27 dias e algumas histórias no Caminho de Santiago de Compostela – Carlos Alberto Tenroller . Encomendei outros. Comecei a acompanhar sobre o assunto nas comunidades do Facebook. Tenho pesquisando tudo sobre O Caminho: época mais adequada para fazer a peregrinação, roupas e calçados indicados, peso da mochila, a história do Caminho, etc, etc, etc…
E no decorrer dessas pesquisas, o que descubro: sabem qual é o Dia de Santiago?? 25 de Julho. Gente, é o dia do meu aniversário!! Sem mais…
Já me defrontei com a pergunta feita por meus interlocutores, a mais óbvia, quando, de forma entusiasmada, conto que irei fazer O Caminho. “Por que você vai atravessar o Oceano, gastar uma grana com essa viagem, caminhar 800 km carregando uma mochila, por cerca de 30 a 40 dias, fazer calos e bolhas nos pés, maltratar as costas, dormir em quartos coletivos com gente que não conhece?”
Embora a resposta, óbvia também, esteja na ponta da língua: “refletir!”, estou ciente de que para isso também posso me jogar no sofá de casa ou caminhar no quarteirão onde moro, opto pela resposta bem humorada e um tanto irônica dada pelo escritor Jean-Christophe Rufin “Quando parti para Santiago, não buscava nada, e o encontrei”.
Ainda citando o mesmo autor: “Como explicar aos que não o viveram, que O Caminho tem como consequência, senão como virtude, fazer esquecer os motivos que levaram a segui-lo? Ele substitui a confusão e a infinidade de pensamentos que levaram a pegar a estrada pela simples evidência da caminhada. Partimos, é só. É desse modo que ele resolve o problema do porquê: pelo esquecimento. Não se sabe mais o que havia antes. Do mesmo modo que as descobertas que destroem tudo o que as precederam, a peregrinação de Compostela, tirânica, totalitária, apaga as reflexões que levaram a realizá-la”.
Explanado isso, fica evidente que não tenho escolha, nem vou resistir. O vírus de São Tiago me infectou profundamente. Ignoro quem ou o que operou o contágio. Está em fase de incubação, mas tenho todos os sintomas…
Muito bom esse livro. Gostei muito.Bem detalhado sobre a parte histórica do Caminho.Confere mais informações aqui No Caminho de Santiago – José Eduardo Iop
Comprei também o mundialmente famoso O Diário de um Mago, do Paulo Coelho, que abandonei lá pela metade. Sinopse aqui O diário de um Mago – Paulo Coelho
Sinceramente, eu não estava preparada para uma abordagem tão… digamos assim, esotérica, à respeito do Caminho.
Projeto Maio de 2017. Farei o mais tradicional, o Caminho Francês. Serão 800 km desde Saint-Jean-Piedde-Port, na França, à pé. Eu e meu cajado! Sob as bençãos do Santo Apóstolo…
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