A fim de conhecer as bodegas situadas nas principais regiões vitivinicultoras de Mendoza, eu e o Lu reservamos um dia para passear por Luján de Cuyo. Como já mencionei por aqui, Mendoza é uma Província grande e a parte bucólica, dos vinhedos, está concentrada nas regiões próximas, como Maipú, Luján de Cuyo e Valle de Uco. Estou contando sobre nossos tours etílicos em cada uma das regiões em posts separados.

Para acessar outros posts sobre Mendoza links abaixo:
De volta à terra do Malbec – Mendoza – Argentina
Região vitivinícola: Maipú Part. I – Mendoza – Argentina
Região vitivinícola: Valle de Uco – Mendoza – Argentina
Luján de Cuyo está a apenas 25 km do centro de Mendoza, sendo bem tranquilo passar o dia passeando por lá, por conta própria ou com a ajuda de um remis (um motorista particular). Viajantes independentes e econômicos que somos, eu e o Lu usamos transporte público para irmos de Maipú até Luján e para circular por lá. Bem de boas, graças ao meu “Homem do Google Maps”, o Lu.
A saída de Maipú foi meio agitada, pois pegamos um bus com destino à Luján que quebrou logo na saída. Então descemos correndo para tomar outro ônibus que vinha atrás e chegar no horário marcado no primeiro agendamento do dia. Mas no final deu tudo certinho.
Na primeira visita do dia estava agendado nada mais nada menos que Bodegas Chandon. Não precisa de maiores apresentações, não é? A Chandon é uma das marcas de espumantes mais conhecidas no mundo e é produzida em cinco países, incluindo a Argentina, com uma unidade de produção em Mendoza, no distrito de Luján de Cuyo.

A empresa Moët & Chandon surgiu na França em 1743 e atualmente também possui unidades de produção na Argentina, Brasil, Estados Unidos e Austrália. A Bodegas Chandon de Mendoza abastece o mercado da Argentina e também exporta sua produção para outros países. Já a Chandon do Brasil, que também é aberta para visitação, está localizada no município de Garibaldi (Rio Grande do Sul) e sua produção abastece somente o mercado nacional. As espumantes produzidas na Argentina não são enviadas para o Brasil para não concorrer com a fábrica daqui e vice-versa. Estas unidades produzem somente a marca Chandon, enquanto que as outras espumantes do grupo LVMH, como a Moët & Chandon, Dom Perignón e Veuve Cliquot, são produzidas apenas na França.
O dia começou com céu nublado, friozinho, mas com o passar das horas, o céu foi abrindo, mostrando rasgos de azul e sol. Chegamos na recepção da Chandon alguns minutos antes do nosso horário agendado, 9 h 30 min da manhã, e fomos bem recepcionados com taças de espumante Chandon Rosé enquanto aguardávamos o restante do grupo. Já gostei!
A recepção da bodega que funciona junto à loja é bem sofisticada, decorada com todas as versões do espumante Chandon. É nela que acontece a degustação no final da visita.
O tour começou pontualmente. A guia dava as explicações em espanhol com um sotaque brasileiro, por isso era bem fácil de entender. Inicialmente passamos pelo bem cuidado jardim entre a recepção e a produção da bodega, seguindo até um pequeno vinhedo modelo, que ainda continha alguns cachos de uvas. Ali ela nos deu algumas explicações iniciais, mostrando como as áreas da bodega estavam distribuídas e também falou sobre os tipos de uvas utilizados pela Chandon Argentina.
Na sequência a visita passou pela área de produção e seguiu para o galpão onde as garrafas ficam armazenadas pelo tempo estimado para cada tipo de espumante, até a saída para comercialização. Lá a guia nos explicou as diferenças entre os dois métodos de fabricação de espumantes: charmat e champenoise.

A etapa final da visita (e a mais esperada por nós!) aconteceu num salão junto à recepção da Bodega, onde ocorre a degustação de três tipos de espumantes: Chandon Baron B, Chandon Apéritif e Chandon Délice. A cada rodada a guia fornece informações completas sobre o tipo de bebida que estava sendo provada.
A Chandon Délice foi a que mais me chamou atenção, por ser uma exclusividade da Bodegas Chandon da Argentina. É uma bebida bem doce, ideal para servir com sobremesas. Diferente do que estamos acostumados, ela não é servida em taças, e sim em copos de cristais, geralmente acompanhadas com uma pedra de gelo, que ajuda a quebrar um pouco o sabor doce da bebida. A Délice é muito utilizada em drinks, podendo ser acompanhada de hortelã, pepino, gengibre e outras especiarias.
Não resisti e saímos da Chandon com um trio de espumantes, Délice, Apéritif e uma Rosé. Quando o solzinho deu as caras eu e o Lu pegamos nossas taças e fomos curtir um pouco do jardim da Chandon. Uma delícia.

Nosso próximo agendamento em Luján era para o almoço com degustação na Bodega Lagarde. A Lagarde é uma bodega familiar fundada em 1897, sob administração da família Pescarmona desde 1969. A visita à vinícola começa pelo casarão original, datado de 1897, onde viveram os fundadores, os portugueses da família Pereira, desde a sua chegada à Mendoza. Depois, foi a hora de passearmos por entre esteiras de separação das uvas, tanques de aço inoxidável, pias de cimento revestidas de epóxi e barris de carvalho por onde os vinhos passam durante o processo de elaboração que dura até cinco anos e cuja qualidade se mantém por três décadas dentro da garrafa. E o fim da visita é a cereja do bolo! Um almoço gourmet servido na varanda do casarão, com vista para os jardins da vinícola, uma amoreira centenária, e os vinhedos a perder de vista. Tudo harmonizado com ótimos vinhos. Após o almoço, fizemos um passeio para conhecer a horta orgânica.
Sobre a Lagarde, algumas observações… Eu tinha lido boas referências sobre a Bodega, inclusive uma amiga, que foi nossa guia por ocasião da visita anterior que fiz a Mendoza, link aqui Mendoza – Argentina “Pelos caminhos do vinho”, havia trabalhado no local e me falou sobre. Ocorreu que durante nossa visita à Bodega La Azul interagimos com alguns brasileiros que estavam por lá e nos falaram que não curtiram muito a Lagarde, acharam pouca comida (aquelas porções gourmet), tudo muito chique e sofisticado. Nos sugeriram trocar pelo almoço/degustação na Finca Decero. Como eu já havia feito a pré-reserva na Lagarde e uma visita à Decero exigiria um pouco mais de logística, pois ficava mais distante, mantive a reserva inicial. Confesso que me arrependi. Não que a Largarde não seja uma bodega bonita, bacana, nem que seus vinhos não sejam bons, mas realmente, depois da overdose da quantidade de comida e vinho que tivemos na El Enemigo e especialmente na La Azul, eu e o Lu concordamos com os conhecidos brasileiros, de que na Lagarde tudo é muito “econômico”.

E depois que uma amiga me contou sobre o que foi sua visita com almoço e degustação de vinhos na Decero, externando adjetivos como “dos Deuses, maravilhoso, sensacional, inesquecível”, eu fiquei p… comigo mesma, tipo “porque não ouviu a dica quentinha?”
Mas tudo bem, Decero já está engrossando a lista de bodegas a serem visitadas durante nossa próxima estada em terras mendocinas (lista loongaa!).
Encerrado o almoço na Lagarde eu e o Lu ainda caminhamos até a Bodega Luigi Bosca na esperança de poder ao menos visitar a loja, tomar mais uma taça de vinho, mas nos foi negado o acesso, em virtude do horário. Só fizemos uma fotinho na frente do prédio para registrar nossa tentativa. Mais uma que vai para a lista de “na próxima!”.
No final da tarde retornamos de busão para Maipú e nos refugiamos em nossa casinha junto a mais algumas taças de vinho e jantinha básica com a deliciosa carne argentina.
No próximo post contarei sobre nosso tour de bike por Maipú. Sobre a aventura que foi conciliar o pedal e muito vinho na cabeça. Graças a Deus, não fomos atropelados e sobrevivemos para contar.