Minha ideia para curtir o domingo em San Francisco era realizar um desejo antigo: atravessar a ponte Golden Gate pedalando. Então acordei cedinho no Vantaggio Abigail a fim de aproveitar bem o dia, tomei café, organizei a mochila com lanchinhos, água e o inseparável casaquinho (ventinho frio em San Francisco, mesmo no verão), escolhi a rota no Google Maps para chegar até a ponte e… pé no pedal!
Pelo fato de não ser um dia útil o trânsito estava muito tranquilo, pouca movimentação de pessoas na rua, enfim, perfeito para “flanar” e observar a cidade. Pude pedalar relaxadamente, e muitas vezes empurrar a magrela morro acima, observando com calma a arquitetura, as fofíssimas e coloridas casas vitorianas…
Passei pela Alto Plaza Park e depois ingressei por um dos acessos do Presidio Park, que é o parque que se conecta à Golden Gate. Pela ruas do parque já avistei a imponente ponte, ainda envolta nas tradicionais brumas, o “fog”. Fiz fotinhos no Main Post, que é um conjunto de prédios históricos bonitinhos rodeado por um gramado caprichado na parte mais antiga do parque e segui no pedal. Logo nova parada para conhecer o San Francisco National Cemetery, que integra o Presídio Park.


Há apenas dois cemitérios dentro dos limites de San Francisco, o cemitério histórico da Missão de San Francisco de Assis, e o cemitério militar do Presidio. O cemitério do Presidio é enorme e tem uma vista caprichada para a Golden Gate. As plaquinhas de mármore brancas contrastando com o verde do gramado parecem coisa de filme. Passei um bom tempo por lá, sendo a única alma viva (trocadilho mais apropriado impossível, risos) visitando o local naquele momento, e achei que o ambiente transpirava paz e tranquilidade.

Cerca de 30.000 soldados americanos e suas famílias estão enterrados no local, incluindo generais e diversos militares que receberam medalhas de honra por defender o país. Não achei a vibe triste, a vista é incrível e valeu muito a pena conhecer (melhor que o ingresso é free, né). Pertinho ainda tem o memorial da guerra com homenagem a todos eles e outra vista daquelas.

Depois dessa parada segui para o Golden Gate Overlook, área verde com muitos mirantes, trilhas e vistas arrebatadoras do Pacífico, da Golden Gate e da Marshall’s Beach. Entupi a memória do celular com dezenas de fotinhos tendo como pano de fundo a famosa ponte vermelho alaranjada.

De fato, a Golden Gate é o principal cartão postal da cidade e uma das construções mais conhecidas dos Estados Unidos. Essa ponte vermelha já muito retratada na ficção conecta a cidade de São Francisco ao Condado de Marin. E não tem como ela passar despercebida na paisagem, viu? A moça é grandona! Na época em que foi inaugurada, em 1937, ela era a ponte pênsil mais alta e mais longa do mundo (são 2,7 km de extensão e 227 metros de altura).
Você sabe por que uma ponte com o nome de “Golden Gate” (Portão Dourado) é, na verdade, laranja? Diz-se que a foz da Baía de San Francisco, o estreito vão que a ponte cruza foi nomeado Chrysopylae (palavra grega para “Portão Dourado”) por um dos seus primeiros exploradores, John C. Fremont. (O Capitão Fremont pensou que se parecia com um estreito em Istambul chamado Chrysoceras, ou “Chifre Dourado”). Logo, faz sentido que a ponte tenha o nome da extensão de água que atravessa. E aquela cor? Isso sim é uma surpresa. Quando o aço para a ponte foi instalado pela primeira vez, ele só estava coberto com um fundo de vermelho. Um engenheiro consultor gostou da cor, sugeriu que fosse mantida e ajudou a desenvolver a cor da pintura final da ponte. Tecnicamente, essa cor é um “laranja internacional”.
Depois de muita contemplação da celebridade, passei o cadeado na bike e encarei uma trilha pela falésia até à Marshall’s Beach, lá embaixo. Quando enfim alcancei a areia tirei os tênis, caminhei na beirinha da água e senti o gelado do mar nos pés. A sensação foi deliciosa, absolutamente agradável. Escalei grandes pedras na praia até que escolhi um canto para relaxar e fazer um lanche. Não lembro o horário no relógio, até porque não importava. Eu estava sendo regida apenas pela minha disposição de pedalar, de caminhar, de conhecer tudo, intercalado por momentos de descanso, de contemplação, e para abastecer meu motor (no caso, minhas pernocas) lanchando e tomando muita água. As nuvens se dissiparam, iluminando o domingo com muito sol e céu azul. Definitivamente, tinha uma guria feliz naquele Sunday!

Após um bom tempo na praia fiz o caminho de retorno até o ponto onde eu havia deixado minha magrela, agora morro acima, suando a camiseta. Já no pedal novamente, segui para a área do Golden Gate Bridge Center e novamente tive vistas belíssimas da Golden Gate e do Fort Point National Historic Site localizado junto à base da ponte.
Você pode dizer “tá certo, mas é só uma ponte”. Mas também é mais que isso, né? É uma das pontes mais famosas do mundo. E quando cheguei do outro lado dela, fiquei até emocionada pensando no simbolismo que ela carregava para mim. Tipo “você sonhou muito em vê-la e agora chegou até aqui. Imagina até onde pode ir?”.
Bom… depois de mais fotinhos no mirante Panoramic View eu apenas “segui o fluxo” das dezenas de magrelas que seguiam pela ciclovia, e quando dei por mim eu simplesmente estava encima da ponte!

A ponte em si foi a parte mais fácil do caminho, porque o vento estava lateral em vez de contra mim, e só ficava muito forte mesmo nas partes redondinhas onde ficam as “bases” da ponte. Nesses pontos de parada eu aproveitei para apreciar a vista desde aquela altura toda. Sensacional! Wonderful!

Detalhe: a lateral esquerda da ponte serve de ciclovia, e tem fluxo nas duas direções, e a lateral direita é destinada aos pedestres. Tudo bem organizado.
Chegando em Sausalito fui recompensada imediatamente com um mirante mara com vista pra ponte e para São Francisco. E, logo depois, uma descida gigaaaaante e bem divertida. Mas antes de descer para a lindinha Salsalito eu ainda queria mais, a fim de me exaurir no pedal mesmo. Sabe aquela pessoa que quer ver tudo, não quer perder nada? Euzinha!
Então eu encarei uma mega subida pela Marin Headland, sempre empurrando a bike, porque ela tinha uma inclinação hard. Lá encima, no mirante chamado Battery Spencer, eu fui recompensada: uma vista de arrasar da Baía de San Francisco, da Golden Gate e da metrópole. Inesquecível! Mais um montão de fotos, até cansar…

Depois, com a tarde avançando, desci “na banguela”, feliz da vida, o morro que pouco antes eu havia suado em bicas para subir. Só na brisa…. Sempre descendo, fiz várias curvas até chegar à Vantage Point e Moore Rd Pier. Dali tive a visão da ponte de um outro ângulo, bacana também. Depois mais uma subida, desta vez não tão íngreme e na sequência outra grande e suave descida, que terminou na lindinha cidade de Salsalito.

A esta altura do dia eu estava bem cansada, resultado de tanto sobe e desce no pedal. Nem cogitei retornar pela ponte pedalando novamente. Fui direto comprar meu ticket para retornar à San Francisco de ferry boat. Encarei uma mega fila de ciclistas para ingressar no ferry, mas no fim deu tudo certo. Deixei para explorar Salsalito num outro dia, em que estivesse com mais tempo e mais descansada. Aquele domingo já rendeu muitos quilômetros da mais pura emoção!

Depois que desci do ferry no Píer 39 inventei de seguir para casa por uma rota alternativa, que fez com que eu encarasse mais umas das típicas subidas de Sanfran. Já perto de casa fiz um pit stop numa conhecida pizzaria para comprar uma mega fatia de pizza que seria meu jantar. Cheguei exausta, tomei um super banho, arrumei um café para acompanhar a pizza e depois caí na cama, onde permaneci até a manhã seguinte, como morta.
Saldo do domingo: realização de um sonho “atravessar a Golden Gate pedalando”. Ao longo dos posts que se sucederão onde escrevo sobre a Califórnia vocês verão que eu repeti a experiência outras vezes, tanto pedalando como motorizada, e que a emoção se renovou sempre!
O resumo do meu sentimento sobre esse dia: absoluta alegria e satisfação. Até hoje eu lembro tudo em detalhes, o barulho do mar, do vento, os cabelos desengrenhados, principalmente revendo as fotos dessa aventura. Enfim… sou pura Gratidão por poder ter vivido tudo o que vivi na Califórnia!
A Golden Gate foi emblemática pra mim nessa viagem a San Francisco, mas há muito mais o que se ver na cidade. E eu vi. Não teve um só dia das seis semanas em que permaneci por lá que eu não tivesse saído para conhecer pontos interessantes. Aos poucos vou destrinchando minhas lembranças em posts. Compartilho tudo por aqui, só aguardar.
Mais links sobre essa incrível experiência na Califórnia:
Intercâmbio a uma hora dessas?!
I arrived in San Francisco! Me situando… – Califórnia – Estados Unidos da América
Estudante, turista, ciclista: estabelecendo minha rotina em San Francisco – Califórnia/EUA
Aloha, San Francisco! Califórnia/EUA